sábado, 27 de maio de 2017

Blueberry, o lendário tenente mais amado do Oeste

Blueberry, o lendário tenente mais amado do Oeste


Eu gosto do gênero western desde criança, quando eu lia as revistas de histórias em quadrinhos “Aí, Mocinho!”, “Bonanza”, “Cavaleiro Negro”, “Cisco Kid”, “Epopéia Tri”, “Paladino do Oeste”, “Reis do Faroeste”, “Tex”, “Zagor”, “Zorro” (“Lone Ranger”), entre outras, e assistia os seriados televisivos “Bat Masterson”, “Bonanza”, “Chaparral”, “Daniel Boone”, “Durango Kid”, “Gunsmoke”, “James West”, “Kung Fu”, “Lone Ranger”, “Paladino do Oeste”, “Rin Tin Tin”, “Roy Rogers” e outros. Naquela época, meados dos anos 1970, no Brasil, as publicações, os seriados e os filmes western eram a grande diversão do público aficionado do gênero; somando-se também que ainda não havia tantas opções de entretenimento como hoje.


Capa de “Blueberry” Nº 18 “Nariz Partido”, 
Editora Meribérica, Lisboa, Portugal, 1984.


Em 1987, eu comprei o meu primeiro álbum “Blueberry”, publicado pela Meribérica, extinta editora portuguesa, na também extinta Livraria Brasileira, próxima ao Teatro Amazonas, em Manaus. Os títulos da série e da história, respectivamente “Tenente Blueberry” e “Nariz Partido”, chamaram a minha atenção, assim como a bela capa mostrando um homem branco, vestindo uma casaca azul, do exército americano, e trajes indígenas, e um índio. Eu não sabia que aquela aventura trazia de volta Mike Steve Blueberry, apelidado de “Tsi-Na-Pah”, pelos índios Apaches, por causa de seu nariz partido, após cinco anos longe dos seus leitores.


Ilustração de Jijé para a capa do primeiro álbum de “Blueberry”,
“Fort Navajo”, publicado, em 1965, por Dargaud Éditeur, Paris, França.


Eu também não sabia que a sua longa saga começara no número 210 da revista semanal “Pilote”, de 31 de outubro de 1963, pelas mãos de dois talentosos mestres da “Bande Dessinée” franco-belga: Jean-Michel Charlier, o maior roteirista da história em quadrinhos francófona, e Jean Giraud, o melhor desenhista da 9ª arte de todos os tempos. “Nariz Partido” (“Nez Cassé”, título original francês do álbum publicado em 1980) apresenta o retorno de Blueberry, após o acidente de trem ocorrido no final de “Angel Face” (o álbum precedente, lançado em 1975), quando muitos colecionadores blueberryanos pensavam que o Tenente mais amado do Oeste não seria mais publicado devido à demora de sua volta às gibiterias e livrarias e à saída da dupla Charlier & Giraud da Dargaud Éditeur.


Refeitura de parte da capa de “Fort Navajo”, por Jean Giraud, para o
“Portfolio Blueberry in Paris”, Libraire Fantasmagories, Paris, França, 1997.


Blueberry retorna vivendo entre os índios Apaches, liderados pelo chefe Cochise e por Vittorio, futuro chefe da tribo, com o qual disputa a mão de Chini, filha de Cochise. “Nariz Partido” marca o início do ciclo do Segundo Complô contra Grant. O Crepúsculo da Nação Apache, que é composto também pelos álbuns “A Longa Marcha” e “A Tribo Fantasma”. O roteiro de “A Longa Marcha” foi inspirado no acontecimento histórico A Longa Marcha dos Navajos - “Long Walk” -, em cuja nove mil índios, a maioria mulheres e crianças, foram obrigados a marchar 500 quilômetros até a sua nova reserva, no Novo México, onde ficaram por quatro anos, quando centenas morreram de doenças e de fome, juntando-se às vítimas da marcha forçada.


Ilustração, de Jean Giraud, para a capa de “Pilote” nº 427, de 28 de
dezembro de 1967, na ocasião do lançamento da primeira parte do
episódio “La Piste des Sioux” na revista semanal da Dargaud Éditeur.


A minha primeira experiência com o oficial fugitivo, cuja cabeça estava colocada a prêmio, acusado de tentar assassinar o Presidente Ulysses Simpson Grant, perseguido por Wild Bill Hickock, famoso pistoleiro, Gedeon Eggskull, caçador de índios, os dois grandes cães desse último, Gog e Magog, e pelo exército americano, foi positiva e me estimulou a procurar mais volumes da série na Brasileira, que me indicou o representante da editora no Brasil, pois aquela livraria não venderia mais publicações importadas. Assim, eu fui comprando mais álbuns até a Meribérica falir, deixando a minha coleção incompleta.


Duas ilustrações de Blueberry, por Jean Giraud, dos anos 1970, para a Dargaud Éditeur.


Anos antes da minha primeira experiência blueberryana, a extinta Editora Vecchi lançou, em 1980, “Fort Navajo, uma Aventura do Tenente Blueberry” (seguindo o título inicial da série na França), que teve apenas dois álbuns, em preto e branco, lançados – “Fort Navajo” e “Tempestade no Oeste”. O editorial, publicado sobre a histórica página de guarda da série – Blueberry, a cavalo, inspirado, por Jean Giraud, no desenhista Jean-Claude Mézières - no primeiro volume:

Depois de COMANCHE, voltamos à carga lançando mais uma revista em formato grande: FORT NAVAJO, com as aventuras do Tenente Blueberry. Esta história, de origem francesa, é escrita por JEAN-MICHEL CHARLIER e desenhada por JEAN GIRAUD, que não é outro senão o famoso MOEBIUS, um dos mais aplaudidos desenhistas da atualidade.
Quando GIRAUD começou a desenhar essa série para a revista francesa PILOTE, estava no início de sua carreira. Ainda sem atingir seu estilo definitivo, com influências de outros desenhistas, ele deu início a essa epopéia do faroeste, famosa em seu país de origem há cerca de vinte anos. Tempos mais tarde, associou-se a outros desenhistas de gabarito, usando o pseudônimo de MOEBIUS, e foi fundada a firma LES HUMANOÏDES ASSOCIÉS, que deu origem à badaladíssima METAL HURLANT, uma das mais cotadas revistas da atualidade.
As histórias de FORT NAVAJO estão sendo publicadas na mesma ordem original e contamos com os leitores para que ela obtenha o mesmo sucesso que as outras já consagradas publicações desta editora.

Em 1990, a Editora Abril, que lançara, em 1976, o primeiro álbum “Blueberry” no Brasil, “O Homem da Estrela de Prata”, retomou a publicação do cabeça-quente, teimoso e insubordinado tenente, dessa vez desde a primeira história, “Forte Navajo”, saída no número 21 da coleção “Graphic Novel”. A editora lança a série “Blueberry”, em cores, que dura apenas quatro volumes - “Tempestade no Oeste”, “Águia Solitária”, “O Cavaleiro Perdido” e “A Pista dos Navajos” – de outubro de 1990 a janeiro de 1991, os quais, juntando a “Forte Navajo”, perfazem o ciclo Forte Navajo. As Primeiras Guerras Indígenas. Na capa, os nomes dos autores são Mœbius e Charlier, porque Jean Giraud é mais conhecido, no Brasil, pelo seu outro eu, Mœbius, que realizava as histórias em quadrinhos de ficção científica, enquanto Giraud aquelas de western.

Em 1992, novamente a Editora Abril prosseguiu Blueberry em uma nova série, denominada “Tenente Blueberry”, em preto e branco, sem os nomes dos autores nas capas, que durou também somente quatro volumes – “O Homem da Estrela de Prata”, “O Cavalo de Ferro”, “O Homem do Punho de Aço” e “A Pista dos Sioux” - de março a junho daquele ano. Ao que tudo indica, a editora não tencionava continuar a série, pois não anunciou, no final de “A Pista dos Sioux”, “General Cabeça Amarela”, o álbum conclusivo do ciclo do Cavalo de Ferro. As Segundas Guerras Indígenas.

Em 2006, Blueberry voltou a cavalgar no Brasil, na ocasião pela Panini Comics, que publicou o ciclo Mister Blueberry. O Rei do Pôquer, em três álbuns em cores na série “Blueberry”, de Charlier e Giraud, sendo os dois primeiros dípticos - “Mister Blueberry” e “Sombras sobre Tombstone”; “Gerônimo, o Apache” e “OK Corral” – e “Dust”, a conclusão do ciclo. A editora lançou os dois volumes iniciais no formato encadernado e o último em brochura, o que gerou reclamações dos leitores.


Blueberry chega à Casa dos Anjos, nos arredores de Santa 
Fé, Novo México. Quadrinho 1 da prancha 22 do álbum 
“Le Hors-la-loi” publicado, em 1974, por Dargaud Éditeur.


A apresentação da Dargaud Éditeur da série “Blueberry”:

“Blueberry”

Roteirista: Jean-Michel Charlier
Desenhista: Jean Giraud

Em matéria de western, Blueberry constitui a referência absoluta. Foi em 1963, que é criado esse personagem, para “Pilote” (1), por Charlier e Giraud. Eles estabelecem de saída um sólido soldado que surge como o sósia de Belmondo (2). A semelhança se esfumaça ao longo dos episódios.

Blueberry é um cabeçudo: tinhoso, nem sempre respeitador do rigor militar, indisciplinado, ele não hesita, às vezes, em desertar para melhor completar suas missões. O roteiro utiliza todos os lugares comuns do western americano, com tudo aquilo que ele precisa de reviravoltas e personagens pitorescos (Mc Clure (3), Angel Face (4), Red Neck, Chihuahua Pearl (5), etc. - sem contar os índios que são reabilitados pelos autores, ponto de vista adotado também em “Cartland” (6)).

Paralelamente ao ciclo clássico da saga de “Blueberry”, Giraud desenha, entre 1968 e 1970, a juventude do futuro tenente (7). Essa “série” retoma seu curso, em 1985, sob o lápis de Colin Wilson (8), muito respeitador do estilo imposto por Giraud. Os álbuns, sucessivamente, têm sido editados por Dargaud (22 títulos, o essencial da base), em seguida por Fleurus/Hachette (9) (10), depois por Novédi (11) e, enfim, por Alpen (12) para a novidade desenhada por Vance (13). A Dargaud inicia a reedição dos álbuns “Blueberry” (14) com novas maquetes e novas cores (15).

N. C.:

1) “Blueberry” foi lançado na revista “Pilote” Nº 210, de 31 de outubro de 1963, Dargaud Éditeur.
2) O ator francês Jean-Paul Belmondo.
3) Jimmy Mc Clure.
4) Angel Face, apelido de Marmaduke O’Saughtnessy, jovem assassino de aluguel.
5) Chihuahua Pearl, apelido de Lily Calloway, bela cantora e dançarina de saloon, cuja carreira estava no auge em Chihuahua, capital do Estado de Chihuahua, México.
6) Jonathan Cartland, personagem western, de uma série homônima, criado pelo roteirista Laurence Harlé e pelo desenhista Michel Blanc-Dumont e lançado, em 1974, em “Lucky Luke”.
7) Histórias publicadas em “Pocket Pilote” e relançadas em álbuns – “La Jeunesse de Blueberry” (“A Juventude de Blueberry”), 1975, “Un Yankee nommé Blueberry” (“Um Ianque Chamado Blueberry”), 1978 e “Cavalier bleu”, 1979.
8) Colin Wilson desenhou seis álbuns da série “La Jeunesse de Blueberry” (“A Juventude de Blueberry”) – três com roteiros de Jean-Michel Charlier e três com roteiros de François Corteggiani, o atual roteirista da série – de 1985 a 1994.
9) A editora Fleurus publicou “La Longue Marche” (“A Longa Marcha”), em 1980.
10) A editora Hachette publicou “La Tribu fantôme” (“A Tribo Fantasma”), 1982, e “La Dernière carte” (“A Última Cartada”), 1983.
11) A editora Novédi publicou “Le Bout de la piste” (“O Fim da Pista”), em 1986.
12) A editora Alpen Publishers publicou “Arizona Love” (“Arizona Love”), volume 23 de “Blueberry”, em 1990, “Sur ordre de Washington” e “Mission Sherman”, respectivamente o primeiro e o segundo volume de “Marshal Blueberry”, em 1991 e 1993.
13) William Vance desenhou, com roteiros de Jean Giraud, os dois primeiros álbuns da série “Marshal Blueberry”, que foi concluída, no terceiro álbum, “Frontière sanglante”, 2000, pelo roteirista Jean Giraud e pelo desenhista Michel Rouge.
14) A Dargaud publicou “Blueberry” de “Fort Navajo” (“Forte Navajo”), 1965, a “Nez Cassé” (“Nariz Partido”), 1980; retomou a publicação, em 1995, com “Mister Blueberry” (“Mister Blueberry”), e relançou os álbuns publicados pelas demais editoras.
15) Os álbuns da série “La Jeunesse Blueberry” (“A Juventude de Blueberry”) desenhados por Michel Blanc-Dumont, foram pintadas, à exceção de “Gettysburg”, por Claudine Blanc-Dumont, a sua esposa, falecida em 10 de outubro de 2012, que também repintou vários volumes da série “Blueberry”.


Red Neck, Mike Blueberry e Jimmy McClure, amigos 
companheiros de aventuras. Ilustração do “Portfolio 
Blueberry Jean Gir”, publicado, em 1983, pelas edições Gentiane.


Atualmente, as minhas coleções das três séries de Blueberry - “Blueberry”, “La Jeunesse de Blueberry” (“A Juventude de Blueberry”) e “Marshal Blueberry” – estão completas.  Desde a publicação, iniciada em 1963, em partes, no hebdomadário “Pilote” até “Dust”, o último episódio, saído em 2005, se presencia a evolução literária de Jean-Michel Charlier e a gráfica de Jean Giraud, nas páginas de “Blueberry”, em roteiros bem estruturados, com muitas reviravoltas, expostos em cenários com enquadramentos cinematográficos, os quais, nos últimos álbuns, apresentam a dualidade Gir-Mœbius – as duas faces de um mesmo artista gráfico.


Um dos beijos de Pearl e Blueberry. Tira 4 da prancha16 do álbum “Arizona Love”, publicado, em 1993, por Dargaud Éditeur.


Ladeado, na maioria das histórias de “Blueberry”, por Jimmy McClure e Red Neck, seus amigos e companheiros, Mike Blueberry gosta de jogar pôquer, em cujo tem mais sorte do que no amor; nesse, procura encontrar o seu par, passando por Chini, filha do chefe Cochise, Chihuahua Pearl, cantora de saloon, até Dorée Malone, também cantora de saloon, nos braços da qual termina a sua busca. As aventuras do Tenente Blueberry - durante o ciclo do Segundo Complô Contra Grant. Parte 1: O Crepúsculo da Nação Apache, podemos chamá-las de as aventuras de Tsi-Na-Pah e as de Blueberry, no último ciclo de sua longa saga, aquele de Mister Blueberry. O Rei do Pôquer -, em cujas se destaca a amizade, continuam a fascinar milhões de leitores no mundo todo.

Afrânio Braga

N. A.: O artigo Blueberry, o lendário tenente mais amado do Oeste foi publicado na revista “Calibre 45 Faroeste” Nº 1, outubro de 2014, Editora Cultura e Quadrinhos, Ponta Grossa, Paraná, Brasil.

Blueberry © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur

Nenhum comentário:

Postar um comentário